quarta-feira, 10 de junho de 2009

Calçada Carnal





Eles vinham, em sentido opostos, como opostos eram suas roupas, vinham com olhares perdidos dispostos em acolás, eles eram.
Ela torpe por diferenciar-se no vestir, a saia negra que o vento movia com fluidez, traçando assim a expansão daquela face dolorida. As mãos cheias de livros mais indesejados que imaginados, misturados com canetas cansadas em uma pasta rabiscada. Assim bem rente ao que nela se forma a cada dia , no peito que se abre bem mais à cada noite. Se os longos fios falassem saberia todos que conflitos vertem pelas raízes e que lá ainda são naturais, já que as pontas combinam com o vestido, com a blusa, com o tênis, com os olhos e os olhares.
Ele firme por querer igular-se no flertar com o que não concorda, rendeu-se a sapatos apertados e gravatas tão simbólicas quanto os colarinhos que as sustentam, de calça larga, que traduzem os pensamentos mais avantajados ainda, por não caberem naquele rosto machucado por uma rotina de gilete forçada com preço de personalidade comprada e programada, para todo dia dizer sim.
Já podado o curto cabelo reclama por hoje sentir a liberdade somente abaixo da raiz.
Devagar os passos sincronizaram-se e os olhares pousaram na atmosfera rara e rápida deste flerte. Os múltiplos se convergem e a as bocas abrem-se para manter os segundos.
A pasta cai até a cintura e a gravata se abre num esforço libertário.
Um só corpo da os passos seguido por estridente motocicleta rápida estrupando a cena.
Eles que vinham, partem, e já são a sequência da calçada que se esfria vazia e sem marcas