sexta-feira, 31 de julho de 2009

Eu plebeu


Maldita a parte
Do eu
Que me faz ser
Plebeu

Maldita a parte
Que inveja
O rei que não sou

Palpita e lateja
O coração envolto
Neste breu

domingo, 19 de julho de 2009

Olhar de menino



Sentava sempre que podia, ali ficava sem do tempo querer saber. Era uma laje a beira da avenida que combinava com os dias, ora frios ora violentos.
Era a laje, um bueiro que misteriosamente não cheirava, se esquecia que era um bueiro, era mais.
Um carro prateado devagar, um caminhão a toda, aqueles olhos a perseguir, o cabelo desleixado, a sentir a cabeça longe do pescoço.
Outro dia e mais outro, até desconfiava que a qualquer hora fosse descoberto, não poderia enganar o padrasto assim tão fácil, daí seria um problemão, um problemão, lembrou que tinha bunda e que ela era sensível. Da outra vez que lembrou dela ficou se lembrando uma semana toda.
Por lembrar do tempo, lembrou-se do acidente do mês passado o Escort conversível que derrubou o poste, o cara era chamado de Apache, levantou os dois ombros e se perguntou sussurrando _Porque será? Pensou que poderia ter um apelido também.
Resolveu ir ver se na grama, perto do fio da avenida havia alguma ferragem ou pedaço do carro batido. Levantou quase, automático, seguiu a trilha que as bicicletas escreviam no barro, olhou para os dois lados, _ Cuidado ao atravessar a avenida. Ecoou anônimo em sua idéia a frase.
Atravessou correndo, com olhos vivos procurava o que significaria morte, mas não para ele, ali tão ligado a avenida e seu movimento, seu vai e vêm constante, sem nomes sem rostos, só carros ônibus, caminhonetes caminhões.
Levou a mão no mato rasteiro, nada. Com a cabeça baixa correu com os olhos também aquela área, olhou o poste novo recolocado no outro dia do acidente, começou a procurar agora, com o pé, mas já sem vontade. Deixou-se levar pelo chamado que os carros vaziam deslocando o ar, olhou para a avenida, olhou para os lados. Parou
Quando olhou a sua esquerda, encontrou no mesmo nível da estreita avenida, com cara de rodovia, uma casa velha e seu dono tão velho quanto, que olhava sentado a beira da avenida ao movimento, tinha os olhos perseguidores, acompanhava os carros como que por intuição, o velho tinha várias roupas no corpo, uma por cima da outra, não reparou mais na casa, somente no velho, sua determinação, em acompanhar o mexer da avenida, sua fraqueza, seu estado ali paralítico. Depois já não reparou no velho como um todo, mas sim em seus olhos negros, tão vazios, como era para ele os rostos que via nos ônibus e nos carros. Mas eram olhos negros, negros como a morte.
Sentiu a mão adormecer no poste, a retirou se vou ali, virou-se para os dois lados lentamente como que acordando, atravessou. O sol voltou, estava ausente escondido, rumou para casa, naquela hora queria ter um carro para voltar, queria ser rápido, já não queria ficar ali sentado.
Aquela foi a ultima visita à laje na beira da avenida na boca da sua rua