quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Inevitável


Eu perecerei
Mesmo traduzindo as verdades de uma paisagem.
Mesmo lendo Dostoiévski
E nas horas vagas Baudelaire
Eu serei em um caixão.

Mesmo regando ética em meus jardins.
Sendo um em vários.
Discutindo infinitudes com amigos,
Eu vou.

Não mais serei
Ainda mais que conheço o bem e o mal.
E nesta navalha dirijo.
E por vezes para ela finjo,
Mas sei que me buscará.
Ela, que motivo ! Ela,Ela...

Eu vivi Hair.
Sonhei Sem destino,
Viajei em 2001,
Queria ser como Stanley Kubrick,
Entretanto pararei de respirar.

Fellini, mesmo sem saber
Aulas me deu.
E aqrendi a pensar com Chopin.
Mesmo que soturno.

Tem 80 páginas meu auto retrato
E nem ele levarei.

O que o passado me diz:
Perdi tempo no que refiz.
Fui frágil como giz,
Mas escrevi, ser feliz, com o giz de meu sangue
Reparei os retalhos.
E me cobri com baldios sentimentos,
Minha colcha poucas conhecem.
E um dia ficarei frio.

Não tenho bagagens,
Na retina cabe o tudo,
Demorei para ver tanto espaço
Quando fecha-la caberá mais ainda.

Como sei disto
Se insisto em viver
Mesmo que o bom seja perecer?

domingo, 3 de janeiro de 2010

Palhaço do dia


O palhaço se refaz, é dia.
Maquiagem reflete o não sabido.
Se limpa do que lhe atribuem.
Voa sobre a lona dos despejos,
Agora lampejo de si,
Caminha, tem como palco o anonimato,
Flerta com a cidade.
Anda, anda,
Tropeça numa mãe extremosa e seus filhos
Volta a ser palhaço no fundo daquele olhar cansado.
Alado, continua, pousa na esquina,
Perplexo, é um acidente,
_ Cadê a ambulância?
Quase desmaia, em muitos rostos, voltou a ser palhaço naquele tumulto.
Cambaleante não tem mais o riso estridente colado na alma.
Tem afazeres, lazeres, queria ter beberes.
O bar é o circo travestido, não luzido
Mas embebido de bobagens, lá também é circo,
No copo cada ranhura mostra novos palhaços enrugados
Mascarados, mascarados, mascarados

O dia acabou o palhaço se faz.
É noite e as luzes ditam:
É hora de ser feliz, é hora de ser alegre
Hahahahhahahahahahhha!