domingo, 18 de fevereiro de 2018

Tempo, Ariadne e Legião Urbana

Prouramos o Fio de Ariadne, a resolução de um problema que nós move de um lugar ao outro sem que saibamos que movemos mais que nossa consciência.

A lenda de Ariadne é o termo usado para descrever a resolução de um problema por meio do óbvio e do lógico. Essa fórmula que usamos muitas vezes anonimamente me veio quando percebi minha impotência perante a altivez do tempo.


Vejo o tempo como a fé, algo que acredito existir, mas não consigo tocar ou tatear, sim quando penso no tempo esqueço meus cabelos brancos, as primeiras rugas, calos ou objetos datados, são nas memórias voláteis que vão e vem que sinto o pisar dos anos na fértil areia de meus pensamentos.


Lá é que sons ganham formas e andam, os aromas falam, e as imagens abraça-me, de forma que pauso o viver corrido e pouco reflexivo, para lembrar e repetir sensações.


Por exemplo. Ao passear pela Praça Zeca Netto em uma ensolarada tarde de domingo, flagrei um grupo jovem tocando violão sob a cumplice sobra das árvores, além da raridade da união em tempos de smartphones, o que me chamou a atenção que o grupo era religioso, e que a música que tocavam a tempos atrás jamais seria permitida em tal grupo, pois era marginal e contestadora de mais Era uma música da Legião Urbana. Quem a mudou? Quem a transportou das margens de um Rock ousado para o centro de um grupo ancorado em tradições que a rejeitavam antes? Em minha humilde tentativa de resolver a questão respondo. Nossa lida com o Tempo.


Ora os valores de nossa sociedade continuam existindo, mas o que fazemos com eles é que muda, não foi o tempo que mudou, mas sim nós, o tempo independe de nossas atitudes, preocupações ou ações. Por pior ou melhor que seja a música continua falando a mesmas coisas as tradições também, o que muda é a luz que damos para estes vestígios que deixamos para outras gerações.


O de baixo sobe e de cima desce sem que possamos ficar nesta terra para testemunhar, por isso escrevemos, pintamos registramos, fotografamos, como se o tempo fosse um inimigo a ser abatido, então o desfiamos com estes artifícios tão catárticos.


Porém vejo o tempo com balsamo para as feridas de nossos erros, sejam individuais ou coletivos, pense em uma reconciliação, nos avanços da ciência e da medicina, se pensarmos que a poucos anos pessoas morriam por doenças hoje ridículas saberemos ver o tempo como aliado, e não como algoz.


Conhecendo o mito de Ariadne onde seu fio conduziu seu amado Teseu por um labirinto é possível entender que nossas escolhas é que qualificam nosso tempo e o que fazemos com ele, mas renega-lo a ponto de a surpresa ser o aríete de uma crise existencial não é o melhor.


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